Não há fome que não dê em fartura. Neste caso não necessariamente a fome de golos (que até têm aparecido) mas a fome de criação de situações de golo.
Disse-nos a estatística que o Sporting, até à jornada 2 foi a equipa que mais ocasiões de golo construiu, mas disse-nos o bom senso que a validade dessa análise era nula, tendo em conta a pobreza da orgânica da equipa, que tornava a equipa mais dependente do acaso (ver golos de Izmailov. Um par de jornadas seguiram-se em que, se a orgância não melhorou, o aproveitamento sim, o que deu para safar a pele de Domingos.
Mas eis que tudo se transforma no jogo de hoje. A circulação de bola foi muito interessante, privilegiando-se a posse mas assumindo um certo risco - risco esse diluído na agressividade da recuperação e ocupação dos espaços. Para tal, algo de extraordinário aconteceu hoje: a movimentação dos jogadores sem bola, como que num Eureka colectivo, que permitiu a existência de espaços nos movimentos ofensivos e relativa ausência deles nos momentos defensivos (aqui uma vez mais as estatísticas, demonstrando terem havido 10 oportunidades de golo para os sadinos - e 15 para os sportinguistas -, deturpam a realidade dum jogo em que a probabilidade do Vitória marcar um golo foi sempre muitíssimo inferior à do Sporting golear a sério).
Ainda assim, alguns sinais de preocupação em relação ao índice de aproveitamento. Mas voltando ao início deste texto, o que tem preocupado seriamente os sportinguistas (ou o que deveria preocupar, melhor dizendo), de há vários anos a esta parte, é a ausência de construção ofensiva, e essa hoje abundou, o que é um sinal muito positivo.
Alguns curtos destaques individuais:
Wolfswinkel - óptimas movimentações, e um soberbo 1º golo. Ainda assim, um índice de aproveitamento que arriscaria dizer inferior ao do Postiga. Mas vai revelando ter sido uma boa contratação.
Schaars - lúcido.
Carrillo - endiabrado qb, bom na conservação da posse de bola, tivesse melhor técnica de remate e lembrar-me-ia o Nani. Mais do que o português, respeita a importância do colectivo,
Rinaudo - um jogador indispensável, rapidez de reacção, recuperação de bola e critério no subsequente transporte.
Capel - pertence a um tipo de jogadores que se recusam a usar o pé direito. Porém, só aqueles predestinados (Messi, Maradona, Drulovic, Balakov) são capazes de evitar a previsibilidade que caracteriza o jogo do espanhol.
João Pereira - um defesa direito raro, importantíssimo na dinâmica ofensiva do Sporting, mas que descura as suas funções defensivas de um modo comprometedor.
Onyewu e Rodriguez - difícil de ignorar a importância do primeiro no jogo aéreo, mas ambos são fracos para jogar ao nível a que o Sporting tem de jogar. Lentos e sem capacidade de iniciar a construção do jogo. Para além do mais, teimam em comprometer o guarda-redes com atrasos pouco cuidadosos.
Rui Patrício - um destaque especial para o elemento que transformou as jogadas de perigo do Vitória em lances rapidamente resolvidos para o lado do Sporting, demonstrando reflexos e segurança, como sempre. Ainda assim, Patrício foi assobiado, para não variar, ao responder em dificuldade a um atraso de merda do Rodriguez, tendo este todo o espaço do mundo para fazer melhor. Patrício podia ter chutado para a linha lateral, mas tentou fazer melhor que isso, que isto é futebol moderno. Saíu-se mal e o público, claro, não perdoou. Mas gostava de ver aqui o Filipe a analisar a quantidade de passes longos criados pelo guarda-redes que possibilitaram um avanço ofensivo do Sporting esta noite. Eu contei vários.
2 comentários:
O Wolfswinkel com golos nos últimos 4 jogos do Sporting apresenta um rendimento inferior ao Postiga?
Vamos lá a ver: eu disse índice de aproveitamento em relação a este jogo. Acho arriscado afirmar que, de maneira geral, o seu indicie de aproveitamente é bom ou mau, uma vez que só vez 4 jogos.
Mas nunca o Postiga teve um jogo com tantas oportunidades claras de golo. Se me demonstrarem o contrário, acredito. Até porque nunca o Sporting criou tantas num jogo - que me lembre.
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