sexta-feira, 6 de maio de 2011

A definição de espectáculo

A evidência: o Barcelona é a melhor equipa de futebol do mundo, e provavelmente a melhor de sempre. Mas há algo em mim, e suponho que em alguns de vocês também, que me leva a torcer por quem defronta esta equipa (informação adicional: o meu fervor Sportinguista foi mais intenso nos anos 80/90).
Mas ao contrário da maior parte dos adeptos de futebol, pelo que observo, tenho uma tendência a afastar-me das noções de "futebol espectáculo", bocejando cada vez mais com golos de calcanhar ou de bicicleta, preocupando-me sim com os processos ofensivos e defensivos de uma equipa, com particular interesse nas adaptações que um conjunto tem de fazer quando joga contra outro potencialmente mais forte (ou mais forte em determinadas áreas).
Está muito na moda dizer que uma equipa para ter identidade deve jogar de acordo com os mesmos princípios, sempre, ou quase sempre, como o Barcelona faz. Pergunto-me o que seria do xadrez se a mesma regra se aplicasse e o jogador tivesse a tendência de abrir o jogo sempre da mesma maneira...
Comparação descabida, talvez, mas o futebol interessa-me cada vez mais pelos seus processos intelectuais em detrimento dos técnicos, mesmo que os primeiros não sobrevivam sem os outros.
Nesse sentido, nos últimos tempos dois jogos em particular fascinaram-me, no verdadeiro sentido da palavra, elegendo-os como provavelmente os melhores jogos de futebol a que já assisti na vida: o Barcelona-Inter das meias finais do ano passado e o Portugal-Espanha do campeonato do mundo na África do Sul. Os níveis de concentração, a vontade de seguir em frente, a quase ausência de erros individuais, a ocupação dos espaços, a unidade das equipas, como se fossem dois gigantes debruçados do topo do estádio a mexer as peças do tabuleiro e não vinte e dois cérebros (ou vinte-e-um, no caso do jogo da Liga dos campeões) numa azáfama infernal.
Dito isto, não consigo compreender as críticas a Mourinho, quando o acusam de perverter o espectáculo em função dos resultados. O futebol é como o póker: quando se joga a feijões, não tem interesse nenhum.

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