sábado, 26 de fevereiro de 2011

a única revolução que interessa no Sporting

Maradona descreve aqui o Sporting como o clube da aristrocacia e da finança que saltita de crise em crise de há 30 anos para cá. Se a dinâmica referida é inquestionável, já essa noção de ser um clube de elite é-me abjecta e, creio, totalmente falsa, apesar de nos ter sido impingida pelos dourados projectos de Roquette.
A ideia é falsa, primeiramente, porque Portugal não tem aristrocacia nem coisa que se lhe pareça. E, segundo, porque não nos vem à cabeça as palavras "sangue azul" ao pensarmos em malta como João António dos Santos Rocha ou José de Sousa Cintra, que carregaram a presidência do clube de 1973 a 1995, ano em que a dinastia da chulice se iniciou.
De resto, desde que me lembro de mim mesmo que vou ao estádio de Alvalade (excepto nos últimos 3 anos, por razões pessoais). Sentava-me ao lado do lugar cativo do meu pai na bancada central, caso algum vizinho faltasse. Tinhamos almofadas para o cu e comíamos queijadas de Sintra, mas não me recordo de gastarmos dinheiro em cachecóis. A dada altura lembro-me do meu pai ter feito um upgrade do lugar e começámos a partilhar uma espécie de camarote dos pobres onde o conforto talvez fosse maior, embora com cadeiras de pau e as casas de banho continuassem a tresandassem a pila. Tinha de levar com os gritos e cuspo de tipos como o João Braga a insultar os árbitros ou com outros mais geriátricos a ganir tácticas senis que supostamente nos levariam à vitória - como em qualquer outra bancada.
Mas havia um sentimento geral que era pertencermos todos a um clube incrível, digno, diferente - verde, caralho -, que atingia os seus resultados não graças a jogadas de bastidores como no Porto, nem graças ao dinheiro que sempre houve no Benfica, um clube que apesar de mais pequeno que os outros se batia de igual para igual, embora perdesse nos momentos cruciais, mas não fazia mal: era uma sina que nos caracterizava, tal como a saudade caracteriza todo o povo português. A certeza de que iríamos um dia vencer mantinha-se sempre inabalável, e a explosão que houve naquele golo do André Cruz era há muito antecipada.

Hoje em dia nada disto existe, creio, a sangria de adeptos e sócios não tem fim à vista mas o pior de tudo são as promessas de glória imediata professadas pelos candidatos, injecções de capital, treinadores, jogadores, etc.

O Sporting perdeu ao mesmo tempo a sua humildade desportiva e a crença de ser um clube digno. Perdeu em todos os campos. E a julgar pela campanha eleitoral que se avizinha, mais valia assumir a falência, perder tudo o resto - mantendo a dignidade - e começar de novo.
É a única revolução que interessa.

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