domingo, 6 de março de 2011

o Debate - algumas observações

Grande parte do debate de ontem foi perfeitamente inócua, e se muitos dizem que os candidatos se portaram como gentlemen, como só no Sporting aconteceria, parece-me a mim que a razão de tal dormência se deveu mais à ausência de ideias concretas, por um lado, e, por outro, porque os candidatos estão todos mais ou menos em sintonia em relação aos assuntos que classifico como popularuchos.
Ou seja, é claro que todos querem um pavilhão, é claro que todos convergem no apoio que se deve dar às modalidades amadoras (excepção para Baltazar que inacreditavelmente pensa que o futsal não faz parte do historial vencedor do Sporting), é claro que todos acreditam numa presidência forte que seja capaz de recolocar o Sporting nos píncaros, é claro que todos querem "acabar com a corja", mesmo aqueles que faziam parte da sua constituição num passado não longíquo, e é claro que todos insistem num revivalismo qualquer, seja esse feito de Monizes, Oceanos, Manuel Josés ou Carlos Freitas.
Uma vez que pelos vistos ninguém ali percebe muito de como dirigir um clube, parecer-me-ia normal que o debate tombasse mais para as avaliações de carácter ou de competência, ao invés das de conteúdos. Confesso que nesse aspecto fiquei bastante desiludido, uma vez que só Boal e Carvalho confrontaram Lopes (Dias Ferreira ainda se vai arrepender disso), e como conteúdos não houve muitos, o debate foi aborrecidíssimo.

Breves notas individuais:

Pedro Baltasar: gosta de Paulo Bento, garantindo que o seu futebol foi mal-compreendido. É incapaz de debater ideias, não sei se por conice se por inferioridade intelectual (assumo a primeira). Revelou ignorância em relação a Zico, aquele que diz ser o seu treinador (escolhido pelos vistos por factores emocionais). Pensa que o percurso dos clubes portugueses tem revelado que os treinadores estrangeiros trazem mais sucesso (!?). Não percebe muito de futebol mas a custo põe-se a falar em 433, 442, etc. Santana Lopes faz todo o sentido ali metido.

Godinho Lopes: Será assumidamente um presidente que quer meter a colher no sistema em que o Sporting tem de jogar, insistindo na ideia de que a equipa principal do Sporting tem de jogar como as camadas da formação jogam (mas alguém imagina este Lopes a dizer a, por exemplo, Mourinho que sistema táctico deve ele adoptar?). Optou por exibir conhecimento real da situação financeira do Sporting, mas não se chegou a compreender como teve ele acesso a certas coisas vedadas aos outros.

Zeferino Boal: atentando às camadas de tártaro que lhe cobrem a dentição inferior, não é um candidato que se leve a sério, mas esteve bem em confrontar GL. Ridículo depois em acusar Dias Ferreira de ter vendido o Rijkaard nos anos oitenta, o que retirou peso à sua acusação anterior. Refere que a escolha de treinador para o Sporting num momento delicado como este pode ter como critério um arrependimento longínquo, dizendo que faria sentido contratar Manuel José porque este "merece". Enfim.

Bruno Carvalho: quer definitivamente meter a unha nas decisões todas do futebol. Um Presidente que manda bitaites acerca de esquemas tácticos é ridículo. Ninguém imagina isso nos países civilizados. Já sabe quais os jogadores que serão recrutados, assegurando que são grandes valias, o que me assusta. Tem ideias claras, sabe expô-las, mas acho-as perigosas. Talvez depois de uns anitos de dirigismo em cima, quando perceber que a ideia de se querer sentar no banco de suplentes é reaccionária e nada útil, além de ter travo a importação do norte, Carvalho seja uma boa opção como Presidente.

Dias Ferreira: foi claro ao afirmar que não lhe compete a ele tomar decisões a nível de compra de jogadores ou a nível de disposição táctica, afastando-se assim, surpreendente para mim, das opiniões de roulote assumidas pelos outros candidatos. Rijkaard é um bónus, mas a que preço? Quando o acusam de ser um candidato sem ideias, fazem-me pensar nas más ideias que os outros têm. De certo modo foi o candidato que mais bom senso trouxe, o que é uma bizarria por princípio. Como se tivesse estabelecido uma linha muito clara entre comentismo e dirigismo. Mas, sem agressividade, ser-lhe-á muito difícil vencer GL.

Abrantes Mendes: é um senhor muito bem intencionado, um óptimo candidato se as eleições tivessem lugar em 1954, mas se há alguém carente de ideias é este senhor.

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