quarta-feira, 13 de abril de 2011

O estranho caso de Óscar Cardozo

O Diário de Notícias fala hoje de que Óscar Cardozo vai deixar o Benfica no fim desta época, o que me deixou a reflectir...

Quando Óscar Cardozo foi contratado pelo Benfica em 2007, um amigo meu que acompanha o campeonato argentino, tão de perto quanto pode, manifestou alguma surpresa. Na verdade, não percebia como o clube da Luz tinha conseguido adquirir aquele que considerava um óptimo jogador. E bastou ver alguns jogos treino e depois os seus primeiros oficiais de águia ao peito para perceber que o Tacuara é realmente um jogador diferente...
Muito desengonçado e frágil a movimentar-se, o paraguaio revelava uma surpreendente desenvoltura com o pé esquerdo, sobretudo na hora de remate em que a sensação que dava é que, de frente ou descaído para a direita, poderia marcar de qualquer lado a partir de meio do meio-campo ofensivo para a frente. De cabeça a coisa não parecia tão famosa debalde o preconceito de que os jogadores altos são fortes no jogo aéreo - ainda assim, recordo-me do excelente golpe de testa no jogo com o Shakhtar em Donetsk para a Liga dos Campeões. Independentemente de alguns altos e baixos, a verdade é que cumpriu a meta de Luis Filipe Vieira que afirmara que o jogador seria barato se marcasse 20 golos por época (marcou 22).
Na segunda época de encarnado, Quique Flores decidiu que não era este o avançado ideal para o seu sistema táctico, que aparentemente se tinha que impor, independentemente das características dos jogadores, e Cardozo jogou menos, ainda assim acabando a época a marcar golos uns a seguir aos outros.
Foi nesta altura que comecei a cristalizar a minha opinião sobre este jogador. Cardozo é desesperante para quem quer no avançado mais adiantado um pivot para tabelar com os colegas - falha passes tão simples que só podem ser erros de concentração. Raramente consegue usar um lançamento longo para a sua cabeça libertando a bola para alguém da sua equipa - na maior parte dos casos em que o solicitam pelo ar de costas para a baliza, acaba estatelado por alguém lhe respirar em cima. Acho que consigo contar pelos dedos das mãos as vezes que assisti a este gigante a driblar um jogador ou vencer um adversário em corrida. Até na finalização, não é comum vê-lo a buscar a bola à frente do marcado em antecipação. Cada vez menos consegue soltar-se para aplicar o seu impressionante pé esquerdo de fora da área. Até nos penalties, onde chegou a ser indefensável, quebrou psicologicamente e agora diria que cada vez que avança para a marca dos 9 metros é como uma moeda ao ar. O problema é que tudo isto esbarra com os quase 100 golos oficiais que já leva pelo Benfica. Na verdade, nos últimos anos, a equipa vê-se e deseja-se para marcar sem Cardozo em campo... Mais, alguns destes golos são de antologia - embora a maioria não.
Como a muitos outros benfiquistas, é-me difícil não manter uma relação de amor-ódio com esta ave rara do futebol. Eu próprio um adepto atípico, sei o que gostava que acontecesse mas desconheço se isso seria o melhor para os resultados desportivos do Benfica. Por mim, aceitava uma proposta igual ou superior ao que foi pago pelo avançado. E nem é devido à forma menos fulgurante desta época. A forma de jogar de Tacuara irrita-me. Fico totalmente fora do sério com funcionar como um terceiro central adversário ou um fantasma na maioria do jogo. Mas depois lá está, os 2 minutos ou 2 segundos do desafio em que se concentra e empenha podem ser suficientes para um golo. Ou dois...

Eu digo: que faça bom proveito ao clube russo, ucraniano ou turco que se prepara para o levar. Se lhe derem a titularidade, tenho a certeza de que marcará golos. Ainda assim, ficarei aqui, talvez ingenuamente, na esperança de um Benfica com um futebol mais ligado, ágil e desconcertante.

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