sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

do futebol e da irracionalidade

Não há mercado (nem desporto) que envolva tanto dinheiro quanto o futebol e que seja baseado em tanta irracionalidade como a que se vê por estas bandas.
Não espanta pois que Jean-Paul Lares, d'O Jogo, suposto especialista no futebol teça os melhores elogios ao Paulo Sérgio, como foi salientado no Bancada Nova. Paulo Sérgio é o paradigma do treinador incompetente mas que, por se achar que é frontal ou sério ou la o que é, serve.
Tamanha subjectividade em relação a este assunto é encontrada em diversas camadas da sociedade, mesmo em pessoas cuja vida profissional é pautada por constantes decisões racionais - cientistas, engenheiros, contabilistas - que quando se debruçam sobre futebol parecem estupidificar (como o médico patologista que acredita no Céu).
E tudo isto tem mais verdade em tempos agitados - que nem a relação entre homem e religião.

Era preciso estar em Inglaterra para se assistir ao acto de fé em torno de Alan Shearer ano e meio atrás, quando assumiu o cargo de treinador do Newcastle a oito jornadas para o fim na tentativa vã de evitar a descida de divisão. Jornada após jornada, enquanto o Newcastle mostrava não sair da cepa torta, praticando um futebol do mais abjecto que possa haver, era opinião geral (jornalistas e opinadores profissionais) que Shearer era o the right man for the job, o único capaz de fazer com que aqueles jogadores deixassem de parecer idiotas em campo e ganhassem pelo menos um par de jogos. Chegou-se ao cumulo de se considerar injusta a descida de divisão do clube, tendo em conta não só a sua historia mas também os esforços feitos no sentido de se a evitar, não incluindo na equação o que é preciso fazer para que uma equipa jogue bem e ganhe.
Com apenas uma ou outra excepção na comunicação social - e acompanhei de perto esse percurso - não se questionou a competência de um homem que, não tendo experiência previa de treinador e sem nunca ter partilhado publicamente as suas ideias em relação a modelos de jogo, se exceptuarmos as banalidades do costume que debita ao analisar a posteriori jogadas na Sky Sports, em oito jogos ganhou apenas um e perdeu cinco, tendo portanto feito uma merdia de 0.62 pontos/jornada (até a sua chegada o Newcastle tinha uma média de 1.00 ponto/jornada). Mas mesmo isso não modificou a opinião geral que se alguém tinha a capacidade de salvar o clube, esse alguém era o Alan Shearer.

Longe vão os tempos em que o futebol era uma questão de força, talento individual e motivação. Mas quantos anos vamos precisar para que os adeptos compreendam isso e deixem de dizer, por exemplo, que aquilo de que o Sporting precisa é de Sá Pintos, Costinhas e um ou dois extremos?

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