sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

o Hélder

Lembro-me de há um par de anos por em causa o valor de jogadores que no curso de uma carreira não conseguiram manter a qualidade exibicional que define o valor de um atleta. Não pode ser obra do acaso que Luis Figo chegou onde chegou enquanto Gil, jogador-estrela da mesma equipa dourada de 89-91, caiu no profundo esquecimento, excepto para aqueles com quem trabalhou a partir do final da década de noventa na telepizza de Agueda.
De resto, é essa uma das tarefas mais difíceis dos olheiros. O talento e a inteligencia de um jogador não são caracteristicas obscuras; a capacidade de concentração, a ambição e a substancia podem ser.
A discussão que tais pensamentos fez brotar prendia-se com o Hugo Viana - e dificilmente existira melhor exemplo que o Hugo para reflectir acerca da inconstância.
Acompanhei o seu percurso com muito entusiasmo desde o primeiro dia em que jogou na equipa sénior do Sporting, ano em que os olhos estavam postos em Cristiano Ronaldo, impondo-se como (improvável) titular indiscutivel (ao contrario do outro). Inteligencia, qualidade de passe, visão de jogo e capacidade de concentração faziam dele um jogador que parecia ter pelo menos 27 anos. Todos auguraram um futuro brilhante e o sucessor de Rui Costa na Selecção estava encontrado.
Hugo mantém as mesmas caracteristicas hoje em dia, mas parece sofrer de uma fragilidade qualquer (emocional?) que o torna de facto algo inconstante, como se nem todos os dias gostasse de jogar a bola. Menosprezei o seu insucesso no estrangeiro (mesmo tendo sido orientado pelo Robson), mas quando regressou ao Sporting fez um percurso que diria ser revelador: nos primeiros 10 jogos errava ate os mais simples passes, não compensava posicionalmente os companheiros, pouco fulgor generalizado. Foi como se tivesse deprimido. Mas aos poucos foi-se encontrando consigo mesmo que nem um haitiano a recuperar da caganeira e acabou por fazer um bom campeonato; um magnifico golo contra o Benfica - cereja no topo do bolo.
Foi quando regressou ao Braga, depois de mais um silencio valenciano, que os do Entre10 vaticinaram o passado de Hugo como mais um grande jogador prejudicado por maus treinadores, lesões, ou la o que é. é bom elogiar um jogador quando se encontra num bom momento de forma mas estou convencido de que a Viana lhe falte um pouco daquilo de que Emilio Peixe tambem carecia.
Um outro bom exemplo é Hélder Postiga. Mas é ele quem contraria a minha reflexão inicial.
Postiga depois de umas excelentes épocas no Porto é vendido ao Tottenham, onde em 19 jogos marca um golo. Sai pela porta pequena e leva com o carimbo "promessa adiada". Mas que aconteceu nesse ano? Foi treinado por Jacques Santini que ao fim de uns quantos jogos se despediu por conflitos com a direcção tendo sido substituído por Martin Jol, que não conseguiu fazer com que o futebol do Tottenham fosse muito diferente do que ainda é hoje em dia - pontapé para a frente e/ou cruzamentos de qualquer parte do terreno, ou seja, um futebol mais ou menos tosco (o seu recente sucesso deve-se mais ao facto do Tottenham ser a equipa europeia com mais internacionais activos nas suas fileiras) no qual Postiga definitivamente não se enquadra. O seu regresso forçado ao Porto, no negócio Postiga/Mendes, coincidiu com um período cinzento (Fernandez e Couceiro), tendo depois sido achincalhado pelo Adriaanse, técnico com o qual simpatizo por ter chegado a incluir a procura de ovos da Páscoa na sua metodologia de treino.
Regressa ao Sporting, Paulo Bento em movimento descendente, de ideias e resultados, e esbarra um pouco na figura de Liedson, que é um fantástico jogador mas determina um certo caos existente nos movimentos ofensivos da equipa. Não é de admirar que se exceptuarmos Derlei - numa meia-época em que o fulgor parecia ser a única arma de arremesso - não nos vem a cabeca outro avançado que tenha feito uma dupla de louvar com o luso-brasileiro, que por sua vez, e talvez paradoxalmente, recusa a ideia de jogar em 433.
Apesar de ter tido treinadores incapazes de por o Sporting a jogar bom futebol (um futebol que se diria moderno, focado na posse de bola e na procura de desequilibrios), Postiga fez umas belissimas partidas, tendo coincidido com os melhores jogos do Sporting dos ultimos anos. A dupla que fez com Saleiro foi do mais agradavel que os sportinguistas nascidos na decada de 90 já viram e aborrece-me que não seja mais explorada.
Claro que para contra-argumentar a ideia de que Postiga é um belissimo jogador de futebol menciona-se a estatistica dos golos. A contra-argumentacao vem da observacao da sua capacidade de finalização - boa -, do numero de oportunidades de que realmente dispõe e da contabilizacao das oportunidades de golo que cria. E' dificil ver Postiga jogar mal - errar passes, receber mal, decidir mal - mesmo no meio de um futebol como o praticado pelo Sporting.
Estou convencido de que, ao contrario de Hugo Viana, Postiga teve realmente azar - um avançado de colectivo que dificilmente se destaca em equipas de pobres processos colectivos. Calhou com os treinadores errados.
O jubilo de alguns (muitos?) sportinguistas com a sua eventual venda, por uns miseráveis 2.5 milhões (Evaldo, banal lateral esquerdo de 30 anos, custou 3), faz sentido. Está coerente com a eleição de um JEB para presidente do Sporting.

3 comentários:

Bernardo disse...

Nunca revisto o percurso do Postiga. De facto o rapaz não teve muita sorte. Diria ainda assim que gere mal a sua própria confiança...

Miguel Nunes disse...

epa, mas o Gil também fez uma carreira bonita até aos 30 anos (altura em jogou a final do mundial de juniores em Lisboa)

Berde e Branco disse...

Caros amigos sportinguistas,

Gostava de saber a vossa opinião acerca dos seguintes nomes como possíveis candidatos à presidência do Sporting:

- Vicente Moura
- Moita Flores
- Hermínio Loureiro
- Joaquim Oliveira
- António Boronha

SL